O mistério não resolvido das máscaras de chumbo

O mistério que envolve Miguel José Viana e Manoel Pereira da Cruz e perdura há quase seis décadas sem solução é uma das maiores incógnitas da história.

Corpos são encontrados todos os dias, frequentemente sob circunstâncias misteriosas. A maioria destas descobertas é fácil de serem explicadas: suas mortes são resultado de um acidente ou suicídio, doenças, e até assassinatos. Mas, alguns casos são tão estranhos que desafiam a lógica – até mesmo depois que evidências já foram coletadas. Esse é o caso da história das máscaras de chumbo, em Niterói, no Rio de Janeiro.

Publicidade

Miguel e Manoel Máscara de chumbo

Publicidade


Em 20 de Agosto de 1966, um jovem rapaz estava possivelmente (existem relatos de que chovia no dia) procurando pipas no Morro do Vintém (atualmente Morro São Lourenço), bairro no subúrbio de Niterói, RJ. Quando chegou ao topo do morro avistou dois corpos masculinos. Ele imediatamente reportou o acontecimento para a polícia, que não foi capaz de encontrar os cadáveres até o dia seguinte, devido às condições do terreno. Quando chegaram, se depararam com uma cena completamente bizarra.


Os dois homens estavam deitados um do lado do outro, vestidos com os mesmos ternos e capas de chuva – e o mais curioso – é que tinham máscaras cobrindo seus olhos. Os corpos cheiravam forte estavam sobre folhas de vegetação, usadas como uma espécie de cama. Depois foi descoberto que eles estavam ali desde uma quarta-feira, a polícia os encontrou somente no domingo. Algumas reportagens indicaram que tais máscaras eram utilizadas para a proteção contra radiação, entretanto, outras fontes indicam que elas tinham um design diferente.

Máscara de chumbo

Máscaras de proteção tipicamente cobrem toda a cabeça, com óculos ou um filtro para respirar. Essas foram feitas em casa, mais para servir com um objeto para tirar a visão de quem usasse, até porque, o restante de seus rostos estava exposto. Enquanto as vestiam, era basicamente impossível conseguir enxergar alguma coisa.


Os dois homens foram identificados como Manoel Pereira da Cruz e Miguel José Viana. Junto de seus corpos as autoridades encontraram uma garrafa de água magnesiana, duas toalhas molhadas e alguns bilhetes, além de 157 mil cruzeiros (cerca de 68 dólares da época) restantes dos 2.300.000 cruzeiros que eles levaram consigo (cerca de 100 dólares da época). Em um dos bilhetes continha listas e outras informações relacionadas a seus trabalhos como técnicos de eletrônica, como código de válvulas de TV da época com as iniciais AMS. Em outro bilhete, entretanto, havia instruções criptografadas que pareciam estar relacionadas as mortes misteriosas.

“16:30 estar no local determinado. 18:30 ingerir as cápsulas, após o efeito aguarde o sinal da máscara”.

Não existiam sinais de trauma, nenhuma evidência de estrangulamento, e nenhuma causa óbvia de morte para ambos os homens. Já em relação às cápsulas, nenhum exame toxicológico foi feito de forma correta nos corpos. O motivo? Uma série de falhas do IML e de outras pessoas que conduziram o caso. De acordo com as reportagens, havia morrido um detetive de suma importância para a polícia, que fez com que os corpos dos dois fossem deixados de lado.


Um terceiro homem chamado Elcio Correia Gomes foi preso como suspeito pouco tempo depois. Elcio que era amigo de Manoel e ex-aluno de Miguel, afirmou a polícia que os dois faziam parte de um grupo científico espiritualista e realizavam experiências para falar com Marte, pois acreditavam que lá existia uma raça superior. Foi quando revelou pela primeira vez que eles já tentaram fazer algumas experiências, sendo inclusive expulsos da praia do Atafona por pescadores após provocarem uma grande explosão que gerou imensa luminosidade, assustando moradores.

Jornal Correio da Manhã (RJ) Ano 1966 Edição 22511 e 22516
Jornal Correio da Manhã (RJ) Ano 1966 Edição 22511 e 22516

O grupo paranormal era aparentemente popular entre outros técnicos de eletrônicas locais. Um outro caso sugeria que outro homem morreu quatro anos antes, em um morro diferente, sob as mesmas circunstâncias. Ele também foi encontrado com a máscara de chumbo.


Quando a polícia procurou na casa das vítimas, encontraram diversos livros do tema como “A vida no planeta Marte”, além de um livro que continha passagens marcadas sobre uma “luminosidade intensa”, da tal entidade que esperavam alcançar. Tal expectativa de uma luz forte explique suas necessidades em cobrirem os olhos.

O detetive Saulo Soares de Souza (1930-2018), que começou a investigar o caso em 1967, um ano após o ocorrido, levantou a hipótese de que eles tenham ingerido cápsulas que continham Curare, compostos venenosos de plantas usados pelos índios em pontas de flechas para paralisar ou até matar inimigos.


É comum em rituais usarem drogas assim para “entrarem em contato com outros mundos”, o Curare causa agitação psicomotora, alucinações, confusão mental e delírios, além de levar a morte se presente em excesso no organismo. Outro fato curioso é que já no organismo o efeito é imediato e o mesmo é rapidamente eliminado pelos rins, em cerca de 10 a 15 minutos. Isso pode explicar o fato de os médicos não encontrarem a “causa mortis” das vítimas.

Correio da Manhã (RJ) Ano 1966 Edição 22517 e 22520
Correio da Manhã (RJ) Ano 1966 Edição 22517 e 22520

Adicionando ainda mais combustível à especulação, jornais locais divulgaram histórias de que os corpos foram encontrados em um local no qual uma moradora Gracinda Barbosa Coutinho de Souza afirmava ter visto um objeto laranja não identificado sobrevoando todo o local, na mesma noite em que os dois estavam por ali.


Já o vigia Raulino de Matos disse que viu os dois chegarem até ali em um jipe, acompanhados de mais dois homens. Até mesmo o ufólogo francês Jacques Valée veio ao Brasil para conhecer o caso, criando o livro onde confronta as informações que obteve.

Ao longo dos anos vários charlatões tentaram usar do caso para ganhar fama ou se beneficiarem, como foi o caso do preso Hamilton Dezani que mentiu ser o autor para ser transferido de São Paulo para o Rio de Janeiro, onde já havia fugido três vezes.


O que os dois homens buscavam conseguir naquela noite nunca será algo que saberemos. Sejam suas mortes resultados de uma overdose, de contato com outros seres espaciais, uma emboscada de terceiros, algum charlatão que os enganou, eles com certeza deixaram um estranho mistério – que perplexa céticos e mantém os entusiastas ainda mais positivos.


Vídeos

Ao longo dos anos tivemos várias reportagens com informações e detalhes valiosos sobre o assunto. Reunimos aqui algumas reportagens que acrescentam e muito sobre o tema.


Linha Direta “O Misterioso Caso das Máscaras de Chumbo” (24.06.2004)

Em 2004, o “Linha Direta” da TV Globo exibiu o episódio “O Misterioso Caso das Máscaras de Chumbo” com a apresentação de Domingos Meirelles.



Linha Direta (1°Versão) “O Mistério das Máscaras de Chumbo” (29/03/1990)

Na estreia do “Linha Direta” a TV Globo exibiu o episódio “O Mistério das Máscaras de Chumbo” com a apresentação de Hélio Costa.



Casa da Gente com Mario Dias “As Máscaras de Chumbo”

Programa da TVN canal 30 de Niterói que era um canal da NET, esse programa foi no interessante pois o apresentador Mario Dias é um dos personagens na investigação do caso em todos esses anos. O entrevistado, o falecido detetive Saulo Soares de Souza, também no caso por décadas fala de sua visão do caso fazendo revelações importantes.




Publicidade

Compartilhar


Subscribe
Notify of
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments