Na primavera de 1974, um grupo de escavadores que estavam trabalhando perto da cidade de Aiud, Romênia, fizeram uma descoberta que acenderia a imaginação de arqueólogos e entusiastas. Enquanto trabalhavam em um porto de areia do rio Mures, no Condado de Mures, encontraram um artefato surpreendente – a Cunha de Alumínio de Aiud. Este objeto, feito de uma liga de alumínio, rapidamente se tornou o assunto de fascinação e controvérsia no mundo da arqueologia.
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A Cunha de Aiud é uma pequena peça de metal em forma de cunha, medindo aproximadamente 20 centímetros de comprimento, 12,5 centímetros de largura e cerca de 7 centímetros de espessura em seu ponto mais largo. O que torna essa descoberta tão intrigante é que o alumínio, como o conhecemos hoje, não foi usado por humanos até o século XIX, e o artefato pode ter entre 400 e 80 mil anos. A mera presença de alumínio em um contexto tão antigo era desconcertante e desafiava a linha do tempo estabelecida da metalurgia, já que foi encontrada junto com ossos de Rinoceronte-lanudo (algumas fontes erroneamente citam ossos de Mastodonte) que datam do período Pleistoceno. Os três objetos foram encontrados juntos, enterrados a uma profundidade de 32 metros.
A própria cunha apresenta sinais de usinagem avançada, com superfícies lisas e polidas e ângulos precisos, desencadeando debates sobre se poderia ser o produto de tecnologia extraterrestre ou de uma civilização pré-histórica sofisticada. O enigma da Cunha de Alumínio de Aiud continua a cativar os pesquisadores e a provocar discussões sobre as origens deste artefato incomum. Além do alumínio, a cunha inclui prata, cobalto, bismuto, níquel, cádmio e zircônio, bem como zinco, cobre, chumbo e silício.
Uma teoria predominante é que a cunha pode ser evidência de uma civilização perdida avançada que possuía conhecimento de metalurgia e maquinaria muito além do que normalmente associamos às sociedades pré-históricas. Defensores dessa ideia argumentam que as características do objeto, incluindo a precisão da usinagem, sugerem um nível de expertise técnica que teria sido improvável para os primeiros humanos.
No entanto, uma explicação mais amplamente aceita usa como base a presença de alumínio no artefato. Embora o alumínio não tenha sido fundido e usado por humanos até o século XIX, há evidências de que a Cunha de Aiud poderia ser o resultado de um processo natural. Quando minérios ricos em alumínio são submetidos a calor extremo, como o de um raio, o metal pode se transformar em pequenas quantidades de liga de alumínio. Esse fenômeno, conhecido como formação de “fulgurita”, poderia ter ocorrido sob as condições geológicas certas.
No entanto, alguns céticos levantam questões sobre essa teoria, apontando que a localização da descoberta estava longe de quaisquer depósitos de alumínio conhecidos. As fontes significativas mais próximas de alumínio estão a quilômetros de distância da região de Aiud, levando alguns a especular que a origem da cunha de alumínio permanece um mistério.
Um aspecto crucial da história da Cunha de Aiud é sua procedência, que tem sido objeto de debates. Críticos argumentam que, sem uma cadeia de custódia bem documentada e um registro meticuloso, é desafiante estabelecer a autenticidade da descoberta. Além disso, alguns sugerem que o artefato poderia ter sido uma criação recente, como o dente de uma escavadeira, colocada no sedimento para enganar ou confundir futuros arqueólogos.
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A verdade sobre a origem do objeto
Não há dúvidas que a Cunha de Aiud é cercada por mistérios, porém temos que analisar alguns fatos para encontrar uma possível explicação. O primeiro deles é o fato de que é desafiante datar o alumínio, uma vez que o mesmo em sua forma pura não possui isótopos radioativos que podem ser usados para a datação radiométrica, o método padrão para datar materiais geológicos e arqueológicos. Muito do que se fala sobre a data do objeto é citando a data dos ossos de Rinoceronte-lanudo, porém os dois podem não estar relacionados.
Este objeto foi encontrado em um rio, e por isso não podemos dizer que está associado a nenhum local específico. Encontrá-lo “perto” de ossos ou qualquer outra coisa não tem importância. A superfície está desgastada e cheia de marcas, muito provavelmente devido à areia e cascalho em que foi encontrado. Isso sugere que, provavelmente, foi descartado em algum lugar rio acima. A produção de alumínio em larga escala só começou no final do século XIX. Diante desses fatos, a explicação mais simples sugere que o objeto provavelmente foi feito em algum momento entre 1880 e 1970, jogado rio acima, e foi levado pela corrente do rio até ficar preso no fundo, coberto por areia e cascalho, onde foi encontrado.
O objeto, também conhecido como “sola de robô” ou “pedaço de OVNI” na Romênia, começou a gerar uma série de polêmicas a partir de 1983, após o aparecimento do livro “Enigme in galaxie“, escrito por Florin Gheorghita, onde o autor afirma que o objeto pode ter origem extraterrestre.
O pesquisador Mihai Wittenberger, de Cluj-Napoca, dedicou um bom período de seu trabalho para desvendar o mistério. A primeira intuição do historiador foi que o objeto fazia parte de um avião. Ele foi levado a essa conclusão pelo fato de ser feito de alumínio e não poder atingir tal profundidade, no mesmo nível das camadas de solo de dezenas de milhares de anos atrás, a menos que tivesse caído de uma altura muito elevada.
Ele fotografou o objeto de todos os ângulos e começou a pesquisar sobre fabricantes de aeronaves no país e no exterior. A primeira hipótese levantada por Wittenberger, era que a peça poderia ser do trem de pouso de um Messerschmitt (avião de combate alemão durante a Segunda Guerra Mundial). Em seguida, passou a acreditar que o objeto trata-se de uma peça do trem de pouso responsável por dobrar a roda do avião Messerschmitt ME 262. O engenheiro aeronáutico Michael Hesemann também acredita nessa teoria. Segundo ele, A peça seria a sola de um dos trens de pouso de uma pequena aeronave.
Segundo o pesquisador romeno Dan D. Farcas, o objeto seria um dos inúmeros indícios de visitas de civilizações extraterrestres muito mais evoluídas que a espécie humana. Gheorghe Cohal, diretor da Associação para o Estudo de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados (ASFAN), afirmou que “nas laterais o objeto apresentava vestígios de impactos repetidos. Este fato sugere que o objeto fazia parte de um sistema funcional. Existem diversas hipóteses a respeito da origem de origem do objeto, não sendo possível confirmar ou negar a possibilidade da origem de origem extraterrestre”.
A Cunha de Aiud continua em exibição no Museu de História Nacional da Transilvânia em Cluj-Napoca como “objeto não identificado” e é, sem dúvida, um enigma arqueológico sem explicação. Sua existência desafia crenças convencionais sobre a história da metalurgia e levanta questões sobre as capacidades das sociedades pré-históricas. Até hoje, ela continua a ser objeto de pesquisa, debate e controvérsia em curso. Se é evidência de uma civilização perdida avançada, o resultado de um processo natural ou uma farsa moderna, a cunha continua a cativar a imaginação e alimentar discussões sobre nossa compreensão da história e da tecnologia humanas.